domingo, 25 de janeiro de 2015

MALHA

Não gritei.
O fiapo de voz
emaranhou-se em uma malha
que usei para vestir evidências.
A percepção não adjetou nada
e toda a estética foi exilada
no depois.
Não gritei porque não senti,
os absurdos desfilavam
e eu os via
como a um filme que só se assiste
sabendo que não corresponde à verdade.
Não gritei para que o silêncio tensionasse
as fibras do presente
até que esse explodisse
sobre a malha que a falha da voz arquitetou.
Cinco minutos depois
a Terra, tal como sempre fora,
virou-me as costas e foi noite.
Miguel continua acorrentando satã.
A Mona Lisa continua fingida.
A malha insuficiente
não esquentou-me o sono.
Tudo não passa
de um tear medieval
a que não se pode dar crédito...

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