segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

ENTOMOLOGIA INTERIOR

Na demografia dos insetos interiores
floresce uma São Paulo no baixo ventre,
uma Londres no plexo solar,
uma Cidade do México na garganta,
umas três Nova Yorks na cabeça
e incontáveis Pequins no coração,
cada qual com suas políticas públicas
a extorquir de inseto a inseto
uma quantidade absurda de energia vital,
a controlar importações com taxas alfandegárias
e ganhos individuais com imposto de renda
em nome do progresso dos insetos.

No interior, baratas publicitárias,
minhocas extratoras de petróleo,
louva-deuses vendedores de bens simbólicos
e as sempre fatídicas cigarras
convencem as moscas interiores
a consumir gasolinas metafóricas
concomitantes a automóveis
e ternos (dos insetos) italianos,
uísques (dos insetos) escoceses,
filmes (dos insetos) americanos
e futebol (dos insetos) brasileiros.

Na demografia dos insetos interiores,
setenta por cento são moscas,
dez são louva-deuses,
cinco são minhocas,
sete são cigarras ou mariposas
e três são centopeias.
(O mundo todo almeja
o status de centopeia.
Há universidades e empresas de coaching
que sobrevivem desse sonho.)
Na demografia dos insetos interiores
há moscas vendendo cachorro-quente
na 25 de Março interior.
Há produtos interiormente piratas
comprados por moscas picaretas
que sonham em ser baratas
entre chuteiras, microfones e cotações.

Semelhanças com a realidade?

O problema é todo seu!

Não se estava falando do mundo.

(Enquanto isso, formigas usam as antenas
para fazer cosquinhas em pulgões interiores.)

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