É muito necessário ser alexandrino,
beber de Homero vinte séculos de imagens
para depois resumir
num haicai moderno
o puro devir
da linguagem sem signos
do que de fato falo.
Na penteadeira você vê-se
como se dissolvesse as linhas do próprio rosto
e, com elas, a Ilíada e os versos de Camões.
Eu, assentado no teu ponto cego,
sou meia-luz
a dissolver tua dissolução.
É muito necessário ser alexandrino,
beber de Homero vinte séculos de imagens,
para entender a dádiva
do instante presente em que, sozinho,
faço-te teus próprios passos ecoados
para longe
da dissolvida meia-luz
em que fui olhos,
para notar
que tudo são dádivas
nesse pobre mundo.
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