quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

JARRO

Ao jogar toda a água de um jarro no mar,
não notei que jamais poderia recuperá-la,
não aquela água que do jarro dividiu-se
em poucos segundos de queda
e depois em ar e lembrança.

A água geral,
essa que é nuvem e biologia,
esse coletivo de movimentos padronizados
de uma parte do Inominável,
sempre será e não será a água 
que, paciente, coletei com o jarro
e lancei onde estaria invariavelmente.

Tive afeto pela água.
Amar é ser devir-louco do que se ama.

Hoje poluem-na todos os esgotos do mundo.
Hoje ela submerge a civilização moderna
como quem movimenta uma peça por século.

Da fábrica de jarros, um dia
sairá outro jarro que coletará a mesma água
que o primeiro coletou,
mas com outra forma, conveniente à época,
segurado por outra mão que há de ser a minha.

Tudo porque amar é ser devir-louco do que se ama,
Só o devir-louco pode fazer com que um evento se repita,
debaixo do nariz e das trenas dos lógicos
e, ainda mais belo,
sem alarde.





Nenhum comentário:

Postar um comentário