Ao jogar toda a água de um jarro no mar,
não notei que jamais poderia recuperá-la,
não aquela água que do jarro dividiu-se
em poucos segundos de queda
e depois em ar e lembrança.
A água geral,
essa que é nuvem e biologia,
esse coletivo de movimentos padronizados
de uma parte do Inominável,
sempre será e não será a água
que, paciente, coletei com o jarro
e lancei onde estaria invariavelmente.
Tive afeto pela água.
Amar é ser devir-louco do que se ama.
Hoje poluem-na todos os esgotos do mundo.
Hoje ela submerge a civilização moderna
como quem movimenta uma peça por século.
Da fábrica de jarros, um dia
sairá outro jarro que coletará a mesma água
sairá outro jarro que coletará a mesma água
que o primeiro coletou,
mas com outra forma, conveniente à época,
segurado por outra mão que há de ser a minha.
Tudo porque amar é ser devir-louco do que se ama,
Só o devir-louco pode fazer com que um evento se repita,
debaixo do nariz e das trenas dos lógicos
e, ainda mais belo,
sem alarde.
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