segunda-feira, 21 de abril de 2014

ETERNO RETORNO

E porque todo o sentido cala a inteligência
falei pela respiração falhada e pelo olho ao longe
de quem anda em direção a todos os rumos
e por isso em círculo.
Acumulei verbos em pretérito perfeito
que não viriam a ser mais do que sentidos
pelos quais minha consciência compreendeu o toque
e ouviu a voz de todos os meus cúmulos cálidos,
esses que caem do bolso sem que nos demos conta,
marcam a fogo o asfalto das calçadas
e gritam sua ausência quando a vida lhes cobra.
E tudo muito mais por uma manobra
do que pela obra em si que possível já me existe,
não como um complexo de coisas arbitrárias
organizadas pela parcialidade do juízo,
mas a obra pura por meio da qual
vive o pouco do que é vivo
e se modifica o que morto
é sempre igual...
E porque o repentino usurpa o lugar
de tudo o que é medido palmo a palmo,
preferi que de repente toda a obra fosse
e se esvaísse comigo
até que de novo me permitisse
me ver por fora de meu umbigo,
me ver alheio, eu que vendo de cima
vi de tudo somente o meio.
Por isso me retiro dos traços das imagens
das cores holográficas e frágeis
do que se me apresenta livre,
posto que não há liberdade conceituável
que não fuja de si mesma
por asco puro.
Por isso quase que me encasco
ainda que não seja duro,
por isso a morte inerente
não é nada diferente do que entullho
ao largo de minhas fronteiras
para chamar de casa, de templo,
isso que é só um rebento de cada caos
ainda que todos os taos de tudo
se equilibrem sem que eu veja.
Mas ainda pouco se compara
à força bruta e amara
de quando meu olho dardeja
os alvos que não acertei
com as torrentes inscritas
nas vestes das horas
em que, absurdo, me retardei.
A pena é que se perdem
no veneno dos meus absurdos
e ao acertar matam o alvo
tanto quanto o obscuro,
e o que sobra é nem olho
nem meta, nem dardo,
apenas o andar em círculos
para que tudo se crie de novo
num absurdo e eterno retorno...

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