segunda-feira, 31 de março de 2014

ALGO RÍTMICO

Nada é de repente.
Em cada ação há um plano
absurdamente preciso,
de uma meticulosidade abstrata
porque não numérica
nem verificável...
Nos algoritmos, somente um pseudônimo
manchado por um café
que é uma analogia,
desenhado com a tinta do vão.
Nada é de repente
porque não se repete
nunca
da maneira exata,
e na variação-quase-erro
algo rítmica e inusitada
do tema milenar e cíclico dos acontecimentos,
nasce o arrepio da epiderme,
premeditados ambos
(epiderme e arrepio),
um como razão de ser do outro
a justificar a criatividade do rosto
sobre o pseudônimo
na contracapa da equação do destino.

No teu algo rítmico,
a liberdade assinala
onde está teu tesouro
como o "x" de uma questão...

quarta-feira, 26 de março de 2014

ESCÁRNIO

Momentos racham o escrínio,
criam o escarnio,
e a carne enrijecida
mingua e berra caimbras.
No mundo das alternâncias
a luz é, não é, é, não é
somente porque pisca
e ao piscar é código
é lei, é adágio...
No teu escrínio, o que é util
não são as paredes de madeira
nem os possíveis cadeados
é o vazio!
Somente ele te permite guardar...
O ritmo da alternância 
cruza limiares em cruz.
Planos cartesianos compostos
por planos cartesianos
compostos.
Todos os pontos são a origem
tudo é zero ...
Eis o escárnio !!

quinta-feira, 13 de março de 2014

PORTA

a Wisława Szymborska, 
se estiver em algum lugar

A percepção se conforta
ao crer que tudo tem sua porta
a proteger o mistério da essência
que produz 
da forma 
a experiência.

Não tenho chaves para nada, muito embora
bastasse bater ou tocar a campainha.
Mas se, em verdade, nada me toca,
como produzir o efeito da abertura
e adentrar o portal sem sustentáculo
sem paredes
sem divisórias
sem cantos?

O ser das minhas mãos é o obstáculo
que protege o sossego sem ego
de quem habita
o único lado 
de minha porta...

Toda a crença da percepção
nos vagos efeitos da criação
pouco me exporta...

SOLVE, COAGULA

Solve
coagula
solve
coagula

A razão emula
todas as pedras filosofais...
parece que tudo resolve
no entanto
recoagula
sua gula
por outros humores
e se desfaz
na amargura sem sal
das mutações...

Como unha em quadro negro
ecoa o sorriso
da paz...

sexta-feira, 7 de março de 2014

ANTICLÍMAX

Todo céu é abstrato.

O que sobra é um vício
em colorir nuvenzinhas
para ocupar os olhos.

Pouco importa há quanto tempo
aquelas estrelas mínimas
implodiram a si mesmas...

A realidade é um maldito besouro
batendo a cabeça
no vidro da lâmpada,
incansável
em sua natureza...