sexta-feira, 11 de setembro de 2015

CRUEZA

Nem noite, nem silêncio.
Não há ambiente simbólico.
Há talvez crueza.

Há talvez.

É preciso forçar os ouvidos a ouvir os ruídos
pra que eles não inspirem como sempre.
Nem noite, nem silêncio, esses servos de toda a literatura igual.

Tentar tanger um agora absoluto é admitir não conhecê-lo.
Não há tempo para confissões de incompetência
quando a auto subversão faz com que se rasguem os cenários mal pintados
daquilo que chamamos de lembrança.
Ela é noite e silêncio.

O contínuo das coisas aumenta o tamanho do passado.
É talvez sua única inquestionável função, e ela é crua
como a comida que se engole com pressa
após não se sentir o gosto.

Não há o que garanta o gosto.

Enquanto medito, o gosto da vida real se perde.
Se eu esquecer-me e for real, não há o que garanta que eu me experimente.

Em ambos os casos, regurgito o talvez
que nasce da ilusão de que sei o que significa qualquer depois.
Outra confissão de inépcia, socrática.

(Dei o nome de Sócrates ao ego por exercício.
Quem sabe ele se convença sábio
e permita que a literatura se repita.
É talvez sua única inquestionável função, e ela é crua
como a comida que se engole com pressa
após não se sentir o gosto.)

Nem noite, nem silêncio.
Eu.