domingo, 25 de janeiro de 2015

MALHA

Não gritei.
O fiapo de voz
emaranhou-se em uma malha
que usei para vestir evidências.
A percepção não adjetou nada
e toda a estética foi exilada
no depois.
Não gritei porque não senti,
os absurdos desfilavam
e eu os via
como a um filme que só se assiste
sabendo que não corresponde à verdade.
Não gritei para que o silêncio tensionasse
as fibras do presente
até que esse explodisse
sobre a malha que a falha da voz arquitetou.
Cinco minutos depois
a Terra, tal como sempre fora,
virou-me as costas e foi noite.
Miguel continua acorrentando satã.
A Mona Lisa continua fingida.
A malha insuficiente
não esquentou-me o sono.
Tudo não passa
de um tear medieval
a que não se pode dar crédito...

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

VÍSCERA

Visceral antologia desce em cascatas,
alisando as pedras ósseas da face.
Nada de lágrimas
e metáforas baratas metamorfoseadas.
A realidade impregna o sangue de medo do mundo,
ainda que criada por uma entranha
e ainda que esta precise de outras como ela
para ser alimentada.
A antologia é toda nervos
vibrando pela fricção de um arco
feito de nervos
a gerar fugas sobre fugas
sobre o mesmo tema.
À dissonância chama-se prazer,
à consonância paz
e ao silêncio, dor ou morte.
Onde mora o eu?
Naquele que declara amor a outros complexos viscerais
ou naquele que ajoelha as entranhas ante o sublime
que a carne adapta
por medo do mundo?

Visceral antologia desce em cascatas
alisando as pedras ósseas da face.
Lágrimas e metáforas
ajoelham a dissonância sem sublime
ante um eu
que não mora em lugar nenhum.

No córtex cerebral, neurônios sentem pena
do neurologista que os massacra
à procura da alma humana.

Após, faz de sua namorada noiva
por amor
abaixo do adágio:
"Médico, cura a ti mesmo"